quinta-feira, 16 de junho de 2011

Aikidô como um mero passatempo?

por Stanley Pranin

Aiki News #86 (1990)

Traduzido por André Fettermann de Andrade

fonte: http://migre.me/53T0i 



Tenho me referido em artigos recentes a nossas estimativas do grau de crescimento do aikidô tanto no Japão quanto no exterior. Apesar de que nossas projeções relativas ao número de praticantes são inferiores a diversas estimativas oficiais, eu acredito que elas tampouco representem sólidas evidências da penetração do aikidô nas maiores culturas mundiais. Com isso em mente, tenho alguns pensamentos sobre a forma com que o aikidô é praticado em muitas escolas hoje e suas implicações no desenvolvimento a longo prazo da arte.
O aikidô é frequentemente referenciado como um esporte em conversas com não praticantes. Quando isso acontece por vezes nós nos opomos ao termo “esporte” e esclarecemos que o aikidô é na verdade uma “arte marcial”. Mas se olharmos cuidadosamente iremos perceber que as pessoas normalmente usam o termo “esporte” num significado mais livre da palavra, e na verdade o que querem realmente dizer é alguma coisa relacionada a passatempo ou atividade de lazer ao invés de uma atividade de competição. Se paramos e refletirmos por um instante, muitos do que estão engajados na prática do aikidô hoje realmente a tratam como um passatempo, hobby ou uma forma de exercício.



Como essa atitude é expressada no treino? Uma área que imediatamente vem à mente é essa, da forma como o aikidô é praticado em muitos dojos, o movimento do uke nada mais é que uma caricatura de um ataque. Isso se deve à ênfase na execução da técnica em oposição ao ensino no básico de como executar ataque sincero e controlado. Ataques fracos e sem comprometimento são também a maior causa das críticas sobre o aikidô por praticantes das artes marciais. Além de ser difícil ou mesmo impossível efetuar uma técnica adequadamente contra um ataque sem sinceridade, uma atitude de tamanho relaxamento contribui para o desenvolvimento de hábitos de treinamento frívolos e lânguidos da parte tanto do uke quanto do nage. Esses são, em troca, contra-produtivos ao desenvolvimento da força muscular e das juntas e do condicionamento geral necessário para a prática segura das poderosas técnicas do aikidô. Eu acredito que a principal responsabilidade por essa forma casual da prática do aikidô é dos instrutores que não foram capazes de captar a essência dos métodos e intenções do fundador ao criar a arte.

É necessário que as técnicas do aikidô sejam eficazes?

Ás vezes também é discutido que as técnicas de aikidô seriam de uso limitado em uma situação real de luta, e mesmo que fossem, o quão eficazes seriam contra uma arma letal como uma pistola. A premissa implícita é que não seja tão importante assim que as técnicas que praticamos tenham uma aplicação marcial. Consequentemente, por extensão, dizem os defensores desse ponto de vista, não há nada de errado em praticar de uma forma relaxada e agradável.
A maior falha na minha opinião sobre essa forma de pensar é que isso negligencia as consquências danosas de tais práticas em sucessivas gerações de aikidocas. Se usarmos o aikido ensinado por Morihei Ueshiba em seguida ao fim da guerra como uma régua pela qual possamos medir a arte atual, nós já podemos concluir que muito menos técnicas são ensinadas hoje e que há pequena enfâse em áreas fundamentais como atemi, uso de armas, e a prática de grupos inteiros técnicas como koshiwaza e hanmi handachi os quais eram parte do curriculum original da arte. Isso sem citar a da quase total ignorância da fonte e conteúdo da mensagem espiritiual do fundador. Se isso continuar por muito tempo, temo que no futuro o que seja passado com o nome de “aikidô” em muitos dojos se torne irreconhecível como tal.

O aikidô tem uma rica herança como uma das mais importantes e dinâmicas expressões da longa tradição japonesa de artes marciais. Morihei Ueshiba, o originador do aikidô, injetou nas complexas e sofisticadas técnicas que aprendeu na sua juventude uma visão humanística das artes marciais como instrumentos de resolução pacífica dos conflitos. É essa mistura única de forma, ética e utilidade a responsável pelo impacto do aikidô nas gerações modernas. De uma certa forma, essa visão do fundador talvez tenha sido revolucionário demais. Parece ter sido demasiado esperar que o mundo fizesse o pulo conceitual considerável requerido para transformar as ferramentas da guerra em instrumentos da paz. Visto sob essa luz, o estado atual do aikidô como uma forma leve de exercício a ser buscado em um ambiente amistoso e relaxado nada mais é que um sinal dos tempos em que vivemos onde o que é mais fácil e divertido atrai mais a atenção do que as atividades que rendem recompensas somente em conseqüência de um esforço aplicado em prolongados períodos.



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