terça-feira, 17 de abril de 2012

As Dobras da Hakama


Tradução: Murilo Garcez

Quando você dobrar sua Hakama lembra que cada dobra simboliza isto:

-Gi - Retidão
- Yuu - Coragem
- Jin - Benevolência
- Rei - Respeito
- Makoto - Honestidade, Sinceridade absoluta
名誉 "名誉" - Meiyo - Honra
- Chuu - Lealdade


-Gi – Retidão (Decisões corretas)

Seja honesto nas suas relações com todos.
Acreditar na justiça, mas não aquela que emana por outros, mas em sua própria.
Para um verdadeiro samurai não existem tons cinzento no que se refere a honestidade e justiça.
Só existe o certo e o errado.

- Yuu - Coragem

Sobrepõe acima das massas de pessoas têm medo de agir.
Esconder-se como uma tartaruga em sua concha não é viver.
Um samurai deve ter coragem heroica.
É muito arriscado.
É perigoso.
Você vive a vida plenamente, completo, maravilhoso.
A coragem heroica não é cega.
Ele é inteligente e forte.
Substitui o medo pelo respeito e cautela.

- Jin - Benevolência

Através de treinamento intenso o samurai torna-se rápido e forte.
Não é como os outros homens.
Desenvolve um poder que deve ser usado para o bem de todos.
Ele tem compaixão. Ajuda companheiro em cada oportunidade.
Se a oportunidade não surge, sai do seu caminho para encontrá-la.

- Rei - Respeito

Samurai não tem nenhuma razão de ser cruel.
Não há necessidade de provar sua força.
Um samurai é cortês até mesmo com seus inimigos.
Sem essa manifestação externa de respeito não somos melhores do que animais.
Um samurai é respeitado não só por sua ferocidade em batalha, mas também pela forma como tratam os outros.
A autêntica força interior do samurai torna-se evidente em tempos de angústia.

- Makoto - Honestidade, Sinceridade absoluta

Quando um samurai diz que vai fazer alguma coisa, é como se estivesse feito.
Nada na Terra irá impedi-lo de realizar o que ele disse que vai fazer.
Não precisa "dar a sua palavra", não precisa "prometer".
Simplesmente dizer coloca em movimento o ato de fazer.
Falar e fazer são a mesma ação.

名誉 "名誉" - Meiyo - Honra

O verdadeiro samurai só tem um juiz de sua própria honra, e é ele mesmo.
As escolhas que você faz e como as realiza são um reflexo de quem você realmente é.
Você não pode esconder de si mesmo.

- Chuu - Lealdade

Ter feito ou dito "algo" significa que "algo" lhe pertence.
É responsável por ela e por todas as consequências que se seguem.
Um samurai é intensamente leal àqueles que estão sob seus cuidados.
Para aqueles quee você é responsável, permanece ferozmente leal.
As palavras de um homem são como suas impressões digitais, você pode acompanhar onde quer que vá

Credo Samurai - 7 regras do Bushido
De: AIKIDO PARA COMPARTILHAR

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Nota de Falecimento


é com grande pesar que informamos o falecimento de Sensei Martins, nosso Shihan CandangoO velório começa hoje às 12h e o enterro às 16h30 no Cemitério Campo da Esperança.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Entrevista com Moriteru Ueshiba


por Stanley Pranin
Aikido Journal #118 (Fall/Winter 1999)
Traduzido por William Soares

Editor Stanley Pranin: Quando você começou a olhar para o aikido com olhar no seu futuro como herdeiro da tradição?
Doshu: Foi apenas quando eu me tornei um estudante universitário que eu comecei a buscar isso com consistência verdadeira. Eu tinha que ir para escola, então, eu só podia praticar algumas horas por dia, na parte da manhã ou de tarde, dependendo do meu programa de aulas. Acho que eu só praticava em média umas duas horas por dia. Durante as férias da primavera eu praticava uma hora extra, por exemplo praticando uma hora de manhã e duas horas na parte da noite, ou vice e versa. Mesmo depois de me graduar o ritmo continuou o mesmo até quando eu tinha aproximadamente trinta anos. Em torno de 1979 meu pai se adoentou por um período e a partir daquele momento em diante as obrigações com o ensino começaram a mudar o meu caminho gradualmente.

Você diria que o seu pai Kisshomaru teve a maior influência sobre você?
Ele costumava ensinar todos os dias de manhã e às sextas-feiras na parte da noite, então eu estava sempre nessas aulas. Eu participava de aulas com outros professores também, mas eu havia vivido toda a minha vida sob o mesmo teto de meu pai, então sem dúvida, o treino que eu tinha com ele era o que mais me influenciou.

Havia alguma coisa em particular que o seu pai enfatizasse ao falar como você a respeito da história do aikido?

Ele não falava muito a respeito desse tipo de coisa comigo. A maior parte daquilo que eu o ouvi falar sobre isso eu escutei depois de começar a treinar de forma mais regular com ele e quando eu o acompanhava a seminários, palestras e demonstrações. Ele nunca se sentou comigo enquanto estávamos em casa e disse, “Moriteru, isso é assim…” ou “Moriteru, essas são as coisas que eu quero que você saiba…”
Em todo o caso, desde o tempo em que eu nasci eu vivi junto com meu avô, o fundador do aikido, e meu pai o Doshu anterior, então eu tenho certeza de que eu fui influenciado por ambos de diferentes formas, mesmo se eles nunca falassem comigo especificamente sobre tais coisas. Eu nasci e fui criado em um ambiente de aikido, em todos os aspectos, técnicos e outros.

Que tipo de treino o seu pai lhe transmitiu especificamente?
Eu treinava com todo mundo, então nunca houve uma vez que ele me chamasse à parte para transmitir apenas para mim um treino especial. Ele sempre chamava a minha atenção para me dar alguns conselhos quando eu estava fora do tatame, por exemplo, para sempre executar minhas técnicas de modo limpo e cuidadosamente, para manter os meus quadris baixos, e para executar os meus movimentos de modo amplo. Mas em termos de como executar um nikyo ou sankyo ou qualquer outra técnica, eu tenho visto e experimentado essas técnicas desde que eu era pequeno e já as entendia, então eu nunca recebi nenhuma instrução particularmente detalhada a respeito delas. A maioria do que me foi ensinado tem a ver com os pontos maiores que eu acabei de mencionar.

Outra coisa que eu tenho que dizer é que, embora meu pai fosse também meu professor, quando nós íamos para casa à noite a nossa relação era apenas como qualquer outro pai e filho (risos).

Isso também inclui o tipo de estágio “rebelde” pelo qual muitos adolescentes passam em um ponto ou outro?
Bem, não, de fato eu nunca tive esse tipo de embate com meu pai, mas aparentemente eu fui algo aterrorizante na escola elementar (risos). Eu costumava me meter em todo o tipo de problema, e a minha mãe estava sempre sendo chamada para lidar com algo que eu tinha feito. Então eu acho que qualquer que fossem as necessidades de rebeldia que eu tenha tido, elas foram canalizadas para fora ao invés de ir de encontro ao meu pai.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Entrevista com Kisshomaru Ueshiba: Os primórdios do Aikido


por Stanley Pranin
Aiki News #77 (April 1988)
Traduzido por William Soares

Kisshomaru Ueshiba
Sensei, eu gostaria de verificar sucintamente alguns pontos históricos. Para começar, quando Ueshiba Sensei veio à Tóquio pela primeira vez com a idade de 17 ou 18 anos, a família Inoue estava envolvida de alguma forma?
Parece que ele foi para Tóquio dependendo do apoio dos Inoues. Eu me refiro a um parente do Sr. Noriaki Inoue em Tanabe. Logo depois de chegar à Tóquio meu pai sofreu beribéri. De forma que ele não teve uma experiência muito boa quando veio à Tóquio quando jovem. No entanto, como ele gostava de artes marciais, parece que ele treinou em um dojo durante um curto período.

O Sr. gostaria de falar a respeito da experiência de seu pai no exército e treinamento em Yagyu Shingan-ryu?
Enquanto ele esteve no exército ele atingiu o posto de sargento. Nessa época ele treinava Yagyu Shingan-ryu com Masakatsu Nakai aos domingos com seus subalternos e conhecidos. Mas isso era apenas uma vez por semana.

Isso foi depois que ele retornou do fronte durante a guerra Russo-Japonesa, cerca de 1905?
Isso mesmo. Eu acredito que embora não fosse um oficial não comissionado no exército, ele era muito respeitado. De acordo com a minha mãe ele costumava entrar pelo portão da guarnição enquanto pedalava em um rickshaw. Normalmente fazer uma coisa dessas deixaria os outros zangados. Isso mostra o quanto os seus amigos soldados eram devotados a ele.

Por quanto tempo a sua mãe Hatsu permaneceu em Hokkaido?
Ela já estava lá quando Shirataki foi destruída pelo grande incêndio, então eu acredito que ela foi para lá por volta de 1913. Eu acredito que ela tenha retornado entre seis meses a um ano antes de meu pai.

Eu acredito que Yoroku Ueshiba [pai de Morihei] e Zenzo Inoue [pai de Noriaki Inoue] foram para Hokkaido também.
Yoroku foi para lá, mas eu não sei se o pai do Sr. Inoue foi para lá também. Yoroku desistiu de seu trabalho como membro do conselho da vila de Tanabe e se tornou um residente com registro em Hokkaido. Ele foi para lá com a intenção de levar tudo consigo. [Na verdade Yoroku retornou para Tanabe depois de curta permanência].

Nos registros de pagamentos mantidos por Sokaku Takeda Sensei está registrado que Morihei Sensei deixou sua casa para o seu professor quando ele deixou Hokkaido para ir à Tanabe na época da doença de seu pai em 1919. Esse documento ainda existe.
Eu entendo que meu pai tenha dado a casa a ele. Ele disse que deu todos os seus bens, inclusive o seu selo de registro para o Sr. Takeda, dizendo que ele poderia fazer o que quisesse com eles. Eu não sei o que aconteceu com a casa depois disso. Na última vez que estive em Hokkaido a casa já havia desaparecido e havia campos cultivados no local. Havia um templo atrás dos campos e eu descobri o nome de Morihei Ueshiba escrito ali.

Nós entendemos que Morihei Ueshiba Sensei se mudou para Ayabe dois ou três meses depois da passagem de seu pai Yoroku e foi solicitado a começar um dojo de artes marciais por Onisaburo Deguchi Sensei.
Ele não foi solicitado a iniciar um dojo no começo. Meu pai havia se desfeito da maioria de seus bens em Tanabe na época. Enquanto esteve em Ayabe sua vida diária teve que se transformar em uma vida de consumidor. Ele tinha que ter dinheiro o suficiente para viver. No entanto, como meu pai já havia vendido a maior parte de seus bens quando ele se mudou para Hokkaido, parece que parentes o ajudaram com dinheiro. Quando eu herdei os bens em Tanabe eles estavam em nome de minha mãe. E o mais interessante é que eles estavam no nome de solteira de minha mãe, "Hatsu Itogawa" ao invés de "Hatsu Ueshiba". Então ele retornou à Tanabe apenas poucas vezes.

Parece que meu pai doou algum dinheiro para a religião Omoto quando se mudou para Ayabe. Eu acho que foi por isso que as pessoas da religião Omoto pensaram que eles deveriam fazer alguma coisa pelo meu pai e deram permissão a ele para construir uma casa no terreno da Omoto. Ele era amante de artes marciais desde o início e, dessa forma, quando a família se mudou para Ayabe eles arrumaram as coisas e ele pôde treinar na casa. Era um pequeno dojo no qual havia 14 ou 16 placas de tatami. Havia quatro portas corrediças grandes na casa e, mais adiante, um templo. Eu costumava ser repreendido por fazer furos nas portas corrediças. (Risos) Uma placa com os dizeres "Ueshiba Juku" (escola Ueshiba) havia sido escrita por Onisaburo Deguchi Sensei em 1920 e o dojo foi aberto. A placa estava sempre localizada próximo a entrada do dojo. Em 1921, quando eu nasci, meu nome "Kisshomaru" foi escrito por Onisaburo Deguchi Sensei. Ele escolheu o nome logo depois de ter sido libertado da prisão. [Deguchi foi preso como conseqüência do Primeiro Incidente da Omoto].

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Entrevista com Kisshomaru Ueshiba

por Stanley Pranin
Aiki News #30 (August 1978)
Traduzido por William Soares
O artigo a seguir foi preparado com a gentil assistência de Jason Wotherspoon da Australia.

A entrevista a seguir foi realizada em 30 de maio de 1978 em Shinjuku, Tokyo na residência do Doshu Kisshomaru Ueshiba. O tema da entrevista foi a biografia, recentemente publicada pelo Doshu, de seu pai, o O-Sensei. Aqueles que estavam presentes na entrevista eram o Doshu, o editor da Aiki News, Stanley Pranin, e o intérprete Midori Yamamoto.


Editor: Quando foi publicada a primeira edição de seu livro Morihei Ueshiba, o fundador do Aikido?
Doshu Kisshomaru Ueshiba: No final de setembro… dia 28 de setembro de 1977.

Aproximadamente quando o Sr. começou a escrever a biografia?
Eu não posso dizer com certeza quando eu comecei a escrevê-la. Já se passaram nove anos desde que meu pai faleceu. Aproximadamente dois ou três anos depois da morte de meu pai, eu comecei a organizar os materiais. Então aproximadamente no início de 1976 eu estabeleci seriamente a tarefa e pedi ajuda da editora. Eu fiz isso durante um longo período de tempo. De todo o modo, antes de eu ter ido a Hokkaido, estive em toda a Wakayama, em Ayabe e Kameoka, toda aquela área, e também acima de Tajima. Eu estive aqui e Alina procura dos traços de meu pai. Para mim, especialmente, era a primeira vez que eu estava em Hokkaido, onde eu estive na parte alta das montanhas. Eu prestei uma visita ao templo da vila de Shirataki. Mesmo as pessoas da vila não tinham conhecimento que havia uma conexão entre o templo e Morihei Ueshiba. Eu estive lá e solicitei ajuda ao líder da vila para remover os pregos – embora fosse discortês perturbar o templo – uma vez que não havia ninguém habitando lá e o templo externo estava fechado com pregos. Quando nós entramos, com bastante clareza, havia algo escrito a respeito de uma doação feita por Morihei Ueshiba em tal e tal data. Então nós descobrimos algumas informações novas e, pouco a pouco, o livro começou a tomar forma.

De acordo com o prefácio do seu livro, em Shrataki o Sr. encontrou um velho senhor que se mudou de Tanabe para Shirataki com seu pai, não encontrou? Eu imagino que o Sr. tomou conhecimento de um grande número de anedotas preciosas ao ouvir as histórias do ancião. O Sr. Poderia nos falar sobre isso?
Era um homem chamado Takeda. Ele faleceu pouco tempo depois de eu tê-lo encontrado. Meu pai organizou uma associação de colonos em Tanabe e o grupo se dirigiu para Hokkaido.. Meu pai era o líder do grupo e o Sr. Takeda era um dos membros. Ele era um rapaz, provavelmente adolescente, eu acredito. Ele se lembrava daqueles dias já que ele havia ido com meu pai e tinha compartilhado tanto as alegrias quanto as dificuldades. Depois que o Aikido se tornou popular, muitas pessoas que o praticam tomaram o caminho para Shirataki a fim de explorar as raízes do Aikido. Eles nunca falharam em buscar o Sr. Takeda para ouvirem suas histórias a respeito daqueles dias, então ele desenvolveu um estilo de contar histórias. Embora as histórias fossem repetitivas, elas eram muito interessantes.

Qual era o primeiro nome do senhor Takeda?
Se você procurar na Aiki Shimbun, você o encontrará lá… em uma das edições antigas da Aiki Shimbun.

A Shirataki de hoje ainda é pequena ou se tornou maior?
Shirataki hoje se encontra em processo de se tornar uma área despovoada. Como qualquer desenvolvimento futuro, bem, pode ser difícil…eu acredito que a população esteja diminuindo. A geada começa em setembro ou no início de outubro, então é um lugar bem frio. No entanto, é um lugar muito agradável. Inclusive com primaveras quentes. Eu estive lá por volta de setembro e graças ao chefe do vilarejo, o líder do conselho e alguns dignitários do vilarejo ofereceram um banquete em minha homenagem. Foi realmente maravilhoso.

Eles ofereceram ao senhor uma grande recepção, não é mesmo?
Sim, eles certamente ofereceram. Nas histórias que mencionei antes, que o Sr. Takeda me contou, ele me mostrou o terreno que pertenceu ao meu pai. Ele disse que o meu pai cultivava uma grande porção de terra que ele havia comprado do governo. De acordo com ele, meu avô, que foi durante muito tempo um membro do conselho do vilarejo de Tanabe, estava bem de vida. Foi por isso que meu pai, o Fundador do Aikido, pode agir como lhe agradava e foi para Hokkaido com o apoio do dinheiro de meu avô.Takeda me disse, “o seu avô era um grande homem. Por causa disso o seu pai era livre para desenvolver o aiki como ele fez. O seu avô deu ao seu filho todo o dinheiro que ele precisava”. Eu já havia ouvido essas coisas antes, mas foi a primeira vez que as ouvi de alguém que tinha conhecimento real sobre elas. Quando eles viajaram de Tanabe para Hokkaido eles partiram de Aomori pela via barca Kampu (atualmente barcas Seikan). Não havia estrada de ferro para Shirataki. Você tinha que ir de Asahikawa na direção de Abashiri para chegar até lá. Então eles utilizaram carruagens puxadas por cavalos. Ele me contou várias histórias a respeito das dificuldades como no dia em que a carruagem ficou atolada na neve quando os cavalos ficaram agitados. Eu acredito que as coisas devem ter sido muito difíceis naqueles dias.

O senhor alguma vez visitou Hokkaido com seu pai?
Não, nunca. Essa foi a primeira vez que eu estive em Hokkaido.



Entrevista com Mitsugi Saotome - parte 01


Aiki News #89 (Fall 1991)
Traduzido por Christiaan Oyens
Este artigo foi preparado graças à ajuda de Jim Sorrentino dos Estados Unidos.

Mitsugi Saotome Shihan é muito conhecido nos Estados Unidos como o fundador do Aikido Schools of Ueshiba (Escolas de Aikido de Ueshiba). Nesta primeira metade de uma entrevista de duas partes, Saotome Shihan recorda seus quinze anos como uchideshi no Hombu Dojo, relata suas impressões sobre O-Sensei e discute sua abordagem para o treinamento com armas.

Aiki News: Poderia nos contar um pouco sobre o seu background em Aikido?
Saotome Sensei: Eu pratiquei Judo quando estudava na escola secundária. Fui enviado ao Kuwamori Dojo com uma carta de apresentação do meu professor de Judo porque ele achava que o Aikido seria bom para mim. Foi assim que fui introduzido ao Aikido. Quem estava dando aula naquele momento era o Seigo Yamaguchi Sensei. Eu era maior do que sou agora e pesava uns 90 kilos. Eu estava acostumado a ganhar competições de Judo em Tókio. Após a aula, Yamaguchi Sensei mandou que eu agarrasse seus dedos. No instante que eu os agarrei ele me arremessou. Não entendi como aconteceu e pensei que tivesse tropeçado em algum dos tatames. Pedi então que ele fizesse isso de novo. Acho que fui arremessado umas quatro ou cinco vezes. Ele me arremessou com seus dedos e também quando agarrei os seus ombros. Foi assim que fui iniciado nesta arte. Depois da aula conversei com o Yamaguchi Sensei e com o Kuwamori Sensei não só sobre artes marciais, mas também sobre vários assuntos como a filosofia oriental. Fiquei muito feliz com isso, pois estava ansioso para discutir estes temas. Ainda respeito Kuwamori Sensei e fiquei muito impressionado com o Yamaguchi Sensei. Então entrei no dojo enquanto seguia a minha prática do Judo.

Isto ocorreu após o retorno de Yamaguchi Sensei de Burma?
Não, isto foi antes de sua ida. O Kuwamori Dojo foi o primeiro dojo sucursal Aikikai após a guerra. Naquela época, o Doshu de Aikido Kisshomaru Ueshiba visitava o nosso dojo, nós o chamávamos então de “Wakasensei”. Pensei que ele seria um típico adepto das artes marciais, mas ele na realidade parecia um professor de universidade e era muito cortês ao falar. Ele me impressionou com os seus modos de cavalheiro. Fiquei surpreso com as suas mãos fortes e grossas. Ele era muito diferente dos professores de Judo. Falei com ele sobre vários assuntos e vim a apreciar o Aikido mais ainda.

Naqueles dias o Wakasensei ainda trabalhava na Companhia de Seguros Osaka. Eu treino Aikido desde aquele tempo. Shoji Nishio também estava presente. E Nobuyoshi Tamura tinha começado três meses antes de mim. Isto aconteceu há uns 37 anos [ca. 1954]. Desejava me tornar um uchideshi, mas isto só foi acontecer em 1961. Naqueles dias Tamura também trabalhava fora, mesmo sendo um uchideshi. Não era como hoje em dia que o dojo paga salários para seus professores jovens.

Quando conheci O-Sensei pela primeira vez eu cursava a escola secundária. Eu pratiquei no antigo Hombu Dojo. O dojo não era sujo, mas os tatames estavam bastante desgastados. O-Sensei, com sua barba branca, estava batendo papo com seus alunos. Não tinha a menor idéia naquele momento de quem era O-Sensei. O-Sensei falou comigo primeiro me dando as boas vindas enquanto as pessoas em sua volta aparentavam muita tensão. Fiquei bastante perplexo e senti um frio na espinha. Não sei se você pode chamar isto de um despertar espiritual, mas eu estava em estado de choque. Naqueles tempos eu pessoalmente visitava professores de diversas artes marciais, não só de Judo, mas todos eram muito diferentes de O-Sensei. O-Sensei tinha sessenta e poucos anos e era muito nobre. Foi uma oportunidade incrível para mim conhece-lo naquele momento. Ele me impressionou profundamente e me fez sentir que poderia abandonar tudo para ficar sob sua tutela.

Era o Wakasensei quem ministrava o maior número de aulas naquela época?
Wakasensei ensinava a aula matinal e depois seguia para o seu trabalho. Yamaguchi Sensei era quem dava o maior número de aulas.

Naquela época já existiam as aulas de manhã e à noite?
Exatamente. Mas não haviam tantas aulas no começo. O número de aulas cresceu gradativamente. Naqueles dias eu participava da aula das 8:00 às 9:00 que geralmente era dada por O-Sensei. Se apareciam dez alunos, o presente Doshu comentava como a aula estava cheia. Ele era jovem ainda. Me lembro que praticávamos kakarigeiko (treino contra ataques contínuos) como o Doshu. Hoje em dia o Aikido é conhecido, mas naquela época muita gente perguntava o que era o Aikido até mesmo em Tókio.

Quando eu era um uchideshi, O-Sensei me repreendia como muito mais freqüência do que aos outros. Eu fui um uchideshi durante mais de 15 anos e foi provavelmente por isso que ele achava mais fácil me repreender. Eu fazia o tipo desajeitado, enquanto que os outros uchideshi eram muito mais rápidos para aprender. Fui o último a permanecer como uchideshi. Em minha opinião, enquanto O-Sensei viveu a arte mudava ano após ano e estava sempre evoluindo. Eu queria observar como O-Sensei se desenvolvia. Foi por isso que fui o uchideshi que mais tempo ficou! [risos]